Representatividade feminina: um caminho ainda cheio de desafios a percorrer
Apesar das mulheres serem 51% da população brasileira; viverem mais que os homens e estudarem mais, há muitos desafios para serem superados neste setor de representatividade.
A evolução da representatividade feminina é muito lenta, pois não é acolhida por todos os setores da sociedade. Foi o que afirmou Isabella D’Ercole, editora-chefe da Revista Claudia, no dia 24 de junho, no “Programa Filtra Ação”, canal de conteúdo online TV Filtros, no YouTube, da Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas – Automotivos e Industriais e das revistas Meio Filtrante e TAE, quando abordou o tema “Representatividade Feminina nas organizações”.
Segundo João Moura, presidente da Abrafiltros “esse é um assunto de extrema relevância e, por esse motivo, foi trazido à discussão, como parte das comemorações do mês de aniversário da entidade, que neste mês completa seus 15 anos de história”.
Segundo Isabella, a representatividade só acontece quando se dá conta da falta dela. “Você quer se ver nos lugares, ter um chefe que reconheça você, um relacionamento, uma família, um governo que te proporcione reconhecimento. Ser visto é extremamente importante para cada pessoa. A invisibilidade não beneficia ninguém, só atrapalha a evolução”, explicou.
Ela apresentou um estudo que relata que 75% dos personagens que aparecem trabalhando nas propagandas são homens, que 62% dos personagens homens têm mais chances de serem mostrados como inteligentes e que apenas 3% das mulheres foram retratadas em posição de liderança ou com ambição. “E este número é exatamente o de mulheres que são CEOs das maiores empresas brasileiras”, afirmou a editora-chefe, ressaltando que isto reflete a realidade na sociedade e que isto precisa mudar. “Não temos representatividade”.
Comentou também sobre as publicações. “Em muitas revistas as mulheres não eram de verdade, todas as modelos eram loiras de olhos azuis. As mulheres de verdade estavam invisíveis e, na sociedade, a escala dessa invisibilidade é ainda maior”, ressaltou.
Ela explicou que por falta de mulheres no espaço de decisão acontecem fatos constrangedores. Em 2019, foi programada uma caminhada no espaço só de mulheres pela NASA. Mas, foi cancelada de última hora porque os trajes eram largos demais, que foram projetados para homens. Destaca outra história da NASA, que, há mais de 30 anos, quando se queria mandar a primeira mulher para o espaço. “Eles perguntaram se um estoque de 100 absorventes era suficiente para ela passar 6 dias no espaço, ou seja, eles não conseguem compreender as necessidades femininas”, indignou-se.
No Brasil, somente em 2016, após 55 anos da inauguração do Congresso Nacional foi providenciado um banheiro feminino. “Foi um lugar pensado só para homens”, enfatizou. Ela lembrou que, na CPI da COVID, não havia nenhuma senadora eleita e após polêmica foi indicada uma para representar todas as outras senadoras.
A mensagem subliminar que chega às mulheres, e que acaba se tornando realidade, é que o mundo é feito pelos homens e para os homens. “Quando se pensa um juiz, a imagem que vem a cabeça é de um homem. Já um profissional de enfermagem se associa imediatamente à mulher, uma posição de cuidado, característica atribuída à mulher. São vieses inconscientes. O mundo reforça a ideia de que o homem está em posição de poder e, de que é mais inteligente”, disse.
De acordo com Isabella, essa falta de representatividade na sociedade não deveria acontecer já que as mulheres são 51% da população brasileira; vivem mais – 79,4 anos contra 72 anos dos homens; estudam mais, em média 8,1 anos versus 7,6 anos deles. No entanto, a renda feminina é, em média, 40% menor do que a dos homens. Sem levar em conta as raças, pois a desigualdade seria ainda maior. “As mulheres negras estão sempre na base da sociedade”, disse.
A editora-chefe ressaltou que no momento em que o comando de uma empresa se torna feminino, aumenta em quatro vezes a possibilidade de ter mais mulheres em cargos de liderança.
Para ela, para este cenário de desigualdade mudar, é primordial investir na educação dentro e fora da empresa. No caso das organizações, é preciso fazer todos entenderem que há necessidade de se respeitar as pessoas em qualquer idade, situação ou gênero; realizar campanhas de inclusão e ter departamentos focados com projetos que envolvam toda a companhia; e a parte mais difícil, segundo Isabella, é fazer com que todos na empresa tenham esta meta.
Ao final, destacou um estudo da McKinsey que relata que se as coisas continuarem do jeito que está, a demora será de 200 anos para alcançar a paridade entre gêneros. No entanto, com a criação de cotas de gênero esse tempo cairia para 100 anos para as mulheres terem as mesmas condições, oportunidades e direitos que os homens. “É muito tempo ainda. Por isso, é importante refletirmos profundamente. Gestor, qual o ambiente que você criou na sua empresa para as mulheres? Ele é acolhedor para as mulheres poderem sonhar em ter tudo como os homens sonham?”, concluiu.
O Programa Filtra Ação, comemorativo aos 15 anos da Abrafiltros, está disponível no canal TV Filtros no Youtube (www.youtube.com.br/tvfiltros) e também no PodCast Programa Filtra Ação no Spotify. O próximo evento acontece no dia 29 de julho, às 15h e vai abordar o tema “Logística Reversa no Brasil”.
Sobre a Abrafiltros:
Criada em 2006, a Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas – Automotivos e Industriais – tem a missão de promover a integração entre as empresas de filtros e sistemas de filtração para os segmentos automotivo, industrial e tratamento de água e efluentes – ETA e ETE, representando e defendendo de forma ética os interesses comuns e consensuais dos associados.
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