Falta de investimento no setor hídrico por meio século será sentido no verão que se aproxima

21/09/2015 por Majô Gonçalves em IBS-Energy
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Antônio Carlos Bento é presidente da IBS-Energy

Antônio Carlos Bento é presidente da IBS-Energy

O fornecimento de energia elétrica pode estar comprometido na alta temporada, com impacto direto no desempenho da economia

As crises de água e energia trazem à tona um problema estrutural, qual seja, a nossa falta de preparo para lidar com eventos climáticos extremos como estiagens severas. E isso vem ocorrendo, pelo menos, por meio século. A falta de investimentos aliada à necessidade de uma nova abordagem de planejamento de recursos faz com que o país permaneça refém do clima uma vez que as chuvas estão se distanciando da média.

O Brasil vive uma insegurança hídrica há praticamente um ano sendo os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro os mais atingidos. Como o sistema nacional é interligado, em termos energéticos todos os estados poderão ser atingidos. Com relação aos reservatórios, para que a região tenha condições de suportar o período de estiagem até novembro, os reservatórios da Região Sudeste precisariam atingir a marca de 35% da capacidade no final do mês abril.

Os impactos dessa crise hídrica no fornecimento de energia têm arrefecido por conta de uma profunda redução na atividade econômica, já percebida pelo desempenho da indústria nos dois primeiros meses do ano. O setor automotivo, que tem peso preponderante no PIB brasileiro mostra queda de desempenho superior a 20% – tanto na produção quanto na venda – no primeiro bimestre de 2015.

Outras formas de geração de energia, no entanto ganham rápida ascensão como a energia eólica que avança – promissor, embora ainda em um processo lento –  e a energia solar como tendência da matriz energética brasileira, impactando diretamente a diminuição das fontes hidráulicas e o aumento da energia renovável.

A energia eólica no país dobrou em 2014 e estima-se que cresça no mesmo ritmo até 2015. A situação também está cada vez mais favorável em termos de preço, hoje inferior ao da energia das pequenas centrais hidrelétricas ou das termelétricas a biomassa.

Em meados da próxima década, a geração de energia solar também deve ganhar mais relevância. O custo da energia solar ainda é elevado, mas ela tem vantagens econômicas como permitir que usuário “doe” energia para o sistema em horários ociosos, sendo recompensado por isso. Poderia haver estímulos caso houvesse linha especial de crédito para a instalação desta energia.

Outro lado que preocupa e muito são os apagões que podem acontecer porque o sistema elétrico do País encontra-se no limite da capacidade e essa situação poderá provocar novas quedas no fornecimento de energia, não sabendo ao certo quando e com qual frequência poderão ocorrer. Aumentos do valor da energia elétrica já são uma realidade em função da revisão extraordinária das distribuidoras para cobrir os custos de Itaipu e Conta de Desenvolvimento Energético, assim como pelas bandeiras tarifárias que tiveram como objetivo refletir o sinal dos custos de curto prazo.

A crise é provocada, infelizmente, pela falta de planejamento para o setor.

As margens de manobra nesse momento são relativamente restritas no sentido da oferta de energia. Então, sobra a aplicação de políticas de racionalização e conservação de energia. A população pode ajudar com lições básicas como o uso racional do chuveiro e redução do tempo de banho, lâmpadas mais eficientes, redução do uso dos aparelhos de ar condicionado, são atitudes que podem, e muito, ajudar o país durante a crise hídrica que pode não terminar tão cedo.

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